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Um Homem de Verdade


Postado em 03.04.2023 02:07


Capa


Autor(es): Boris Polevói

Editora: Editorial Vitória

Páginas: 389

Idioma: português

ISBN-13: 0

ISBN-10: 0


A história narrada aqui é a do piloto de caça soviético Alexis Meressiev. Em 1942, ele foi derrubado atrás das linhas alemãs. Com as pernas bastante machucadas, se afastou dos destroços de seu avião e voltou até forças amigas. Alexis fez a maior parte do trajeto rastejando.


**A jornada inteira durou 18 dias**. 18 dias se alimentando do que encontrava pela floresta, se escondendo dos alemães, resistindo à dor física, arrastando atrás de si pernas severamente feridas.


Depois desse tempo, foi encontrado por membros de um pequeno *kolkhoz*, que fugiram de sua aldeota porque os alemães tinham ocupado aquele território e mataram alguns de seus habitantes.


Transportado para um hospital em Moscou, tentou tratar das pernas. Foi impossível. Ambas estavam gangrenadas e precisaram ser amputadas. Depois de um período inconsolável, decide que voltará a ser piloto de caça.


Ainda no hospital, inicia um regime de exercícios para reaprender a andar e ganhar a destreza necessária para pilotar um avião com os aparelhos ortopédicos que recebeu. Lutando contra muita dor e cansaço, os exercícios vão aos poucos fazendo efeito. A determinação de Alexis é tão grande que ele decide aprender a dançar depois de transferido para uma clínica da Força Aérea em que era feita a fase final de convalescença de pilotos.


Lutando contra muita burocracia e ceticismo, consegue matricular-se numa espécie de escola de reciclagem para voltar a voar. Vai bem nessa escola e é enviado para a frente a tempo de participar de confrontos aéreos nas proximidades de Kursk.


Durante uma [*dog fight*](https://en.wikipedia.org/wiki/Dogfight), abate 3 caças alemães [Fw 190](https://en.wikipedia.org/wiki/Focke-Wulf_Fw_190) da "[Richthofen](https://en.wikipedia.org/wiki/Jagdgeschwader_2)", uma unidade da *Luftwaffe* considerada de elite.


O livro termina com um epílogo em que o autor explica como tomou as notas que viraram esse romance. Ele foi um correspondente do Pravda enviado a um regimento especialmente vitorioso na batalha de Orel. Lá conheceu Alexis e se convenceu de que a história precisava ser contada ao mundo.


Então, se você já estava pensando "puts, esses comunistas e sua propaganda querendo criar uma história de um super soviético que supera tudo"... Pode parar aí. Esse livro é de ficção, mas fortemente baseado em fatos. [O homem existiu mesmo](https://en.wikipedia.org/wiki/Aleksey_Maresyev). Ele de fato perdeu ambas as pernas e de fato é um às da aviação soviética.


Fiquei com a sensação de que se o soldado soviético médio tinha metade da determinação de Alexis, não tinha mesmo como aquele povo perder a guerra. Como disse um coronel à Alexis após a missão em que abateu os 3 Fw 190:


> — Quer saber de uma coisa? Estou orgulhoso de comandar homens como você... Obrigado! E seu companheiro Petrov? Não é espantoso! E todos os outros? Ah, não será um povo dêsses que perderá a guerra...


Até mesmo Göring precisou se livrar no final da vida da crença de inferioridade dos povos do oriente. Muito a contragosto declarou que os soviéticos eram um povo que não conheciam e não compreendiam.


> — Reconhece que cometeu um grande crime com o covarde ataque à União Soviética, ataque êsse que levou a Alemanha ao desastre? — perguntou-lhe o procurador soviético, Roman Rudenko.

>

> — Não foi um crime, mas um êrro fatal, respondeu Göring, a voz abalada, baixando os olhos, enraivecido — Tudo o que posso admitir é que agimos levianamente: revelou a guerra uma quantidade de coisas que ignorávamos, de que não tínhamos a menor idéia. Acima de tudo, que não conhecíamos e não compreendíamos os russos soviéticos. Eram — e continuam a ser um enigma. Os melhores sistemas de espionagem mostraram-se impotentes para revelar seu verdadeiro potencial de guerra. Não falo aqui do número de canhões, de aviões e de tanques, algarismos que sabíamos aproximadamente. Não falo do poder e da mobilidade da indústria. Falo dos homens: o homem russo foi sempre um enigma para o estrangeiro. Napoleão também não o compreendeu. Não fizemos outra coisa que repetir o erro cometido por êle.


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Não anotei mais trechos desse livro porque ele foi um verdadeiro *page turner*, mas precisei parar para anotar a fala de um velhinho que reclama com Alexis da postura dos aliados dos soviéticos:


> —...O senhor, que é militar — prosseguiu o velho — responda: isso é correto? Há mais de um ano que enfrentamos sòzinhos o fascismo. Onde está a segunda frente prometida por nossos aliados? Olhe, imagine o seguinte quadro: um homem sem medo trabalhava de manhã à noite. É de repente atacado por bandidos. Tem coragem, enfrenta-os, embora sòzinho e êles sejam numerosos e bem armados, porque meditaram longamente o golpe. Os vizinhos, vendo o que se passa, espiam de longe e encorajam o homem que se bate. Bravos, dizem-lhe, desanque êsses vagabundos, com força. Mas em vez de lhe darem mão-forte para repelir os bandidos passam-lhe pedras e pedaços de ferro. Com isto será melhor, explicam, batendo assim é melhor. Enquanto esperam, ficam sàbiamente ao abrigo das pancadas. Pois sim, eis aí a política de nossos queridos aliados. Ficam olhando o que nós fazemos...


É fácil perder a dimensão do tamanho do sacrifício soviético na 2ª Guerra, especialmente se nos "educarmos" pela narrativa de Hollywood. Ter contato com histórias como a de Alexis dá uma dimensão do tamanho do esforço necessário para vencer na frente oriental.


Para quem só viu filmes estadunidenses sobre a 2ª Guerra e ouviu superficialmente que "morreu muita gente" na frente oriental, recomendo visualizações como a abaixo:


{{< youtube DwKPFT-RioU >}}


Veja as considerações sobre "as crueldades de Stalin com seu próprio povo" com um grão de sal (é um documentário estadunidense, anticomunismo é mato), mas a quantidade de mortos dá uma ideia de quem realmente "carregou o piano" no esforço para derrotar o fascismo.


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Só encontrei esse livro na Biblioteca Municipal de Petrópolis e em alguns sebos, sempre por R$ 100,00 ou mais.


Está quase tão difícil de encontrar quanto o "[A Colheita](/books/a-colheita/)", que faz parte da mesma coleção.


Proteja as bibliotecas. Elas fazem um trabalho de preservação de acervo importantíssimo.


[As informações são efêmeras](/blog/informacoes-sao-efemeras/). Se ninguém republicá-los e não existir quem preserve as cópias existentes, esses livros da coleção "Romances do Povo" muito em breve estarão inacessíveis.


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