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A Mão Esquerda da Escuridão


Postado em 26.06.2022 00:00


Capa


Autor(es): Ursula K. Le Guin

Editora: Aleph

Páginas: 304

Idioma: português

ISBN-13: 9788576574484

ISBN-10: 8576574489


Essa ficção científica narra a missão de um humano, Genly Ai, no planeta Gethen (também chamado de Inverno). O objetivo da missão é persuadir os líderes das nações do planeta a unirem Gethen a uma espécie de comunidade universal, algo como uma "ONU planetária", que objetiva intercâmbio cultural e científico.


A cultura getheniana é ricamente descrita e difere da nossa num aspecto muito fundamental: a diferença entre os gêneros. Os gethenianos não assumem permanentemente papéis masculinos ou femininos. Eles passam a maior parte do mês num estado não fértil, com aparência andrógina. Só desenvolvem características sexuais durante o período denominado *kemmer*, uma espécie de cio, e um mesmo getheniano pode assumir características masculinas e femininas ao longo da vida, de acordo com variáveis ambientais.


> Choque cultural não era quase nada comparado ao choque biológico que sofri como macho humano em meio a seres que eram, oitenta por cento do tempo, hermafroditas assexuados.


Os efeitos sociais e culturais dessa diferença biológica são grandes:


> Considere: qualquer um pode trabalhar em qualquer coisa. Parece muito simples, mas os efeitos psicológicos são incalculáveis. O fato de toda a população, entre dezessete e trinta e cinco anos de idade, estar sujeita a ficar (como Nim definiu) "amarrada à gravidez" sugere que ninguém aqui fica tão completamente "amarrado" como, provavelmente, ficam as mulheres em outros lugares - psicológica ou fisicamente. Fardo e privilégio são compartilhados de modo bem igualitário; todos têm o mesmo risco a correr ou a mesma escolha a fazer. Portanto, ninguém aqui é tão completamente livre quanto um macho livre, em qualquer outro lugar.


> Considere: não existe nenhuma divisão da humanidade em metades forte e fraca, protetora/protegida, dominante/submissa, dona/escrava, ativa/passiva. Na verdade, pode-se verificar que toda a tendência ao dualismo que permeia o pensamento humano é muito reduzida, ou alterada, aqui em Inverno.


> Um homem deseja que sua virilidade seja reconhecida, uma mulher deseja que sua feminilidade seja apreciada, por mais indiretos que sejam esse reconhecimento ou essa apreciação. Em Inverno, isso não vai existir. Julga-se ou respeita-se uma pessoa apenas como ser humano.


> O carinho pelos filhos pareceu-me profundo, efetivo e quase que desprovido de possessividade. Só nessa falta de possessividade ele talvez se diferencie do que chamamos instinto "materno". Desconfio que a distinção entre instintos materno e paterno nem mereça ser mencionada; o instinto, o desejo de proteger e de favorecer, não é uma característica ligada ao sexo...


O livro não te coloca para pensar só em papéis de gênero. Nos trechos abaixo, temos uma reflexão sobre patriotismo:


> Conheço pessoas, conheço cidades, fazendas, montanhas, rios e rochas, sei como o sol poente do outono se esparrama pela face de um certo tipo de terra arada nas montanhas; mas o sentido de impor uma fronteira a isso tudo, dar-lhe um nome e deixar de amar o lugar onde o nome não se aplica? O que é o amor pelo seu país? É o ódio pelo seu não-país? Então, não é uma coisa boa. É apenas amor próprio? Isso é bom, mas não se deve fazer dele uma virtude ou uma profissão de fé...


> E me perguntei, não pela primeira vez, o que é patriotismo, no que consiste verdadeiramente o amor pelo país, como surge a terna lealdade que deixara embargada a voz de meu amigo - e como esse amor tão real pode se transformar, com frequência, em intolerância tão vil e insensata. Em que ponto ele se torna nocivo?


Foi uma leitura sensacional, pelos questionamentos e pelo enredo. Certamente lerei mais coisas da autora.


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